Eu tenho um dado de espuma que comprei há alguns anos, daqueles bem grandes e coloridos, e todas as vezes que o levo à sala de aula meus alunos ficam assanhadíssimos assim que entro com ele. Os mais distraídos são logo acotovelados pelos mais espertos, que assim justificam seu estado de animação.
Tudo isto porque há alguns anos percebi que muitas vezes uma longa e tediosa revisão pode ser substituída com vantagens por um ou mais jogos educativos.
Aprendi também a adaptar jogos tradicionais às minhas necessidades (ou de meus alunos) e uso-os bastante para praticar ou revisar vocabulário, gramática, fonética e até interpretação de textos.
Prometi a mim mesma que essa semana faria uma série de artigos mostrando como usar esses jogos tradicionais em sala, adaptando-os à matéria que você tem para revisar com seus alunos, mas só hoje foi possível começar, e essa série deve entrar pela semana que vem adentro, porque há muita coisa para compartilhar.
Quais as vantagens de usar jogos?
Essa pergunta muitos colegas me fazem, e consigo me lembrar de algumas, que são as que uso mais frequentemente:
1) Todos participam. Quando fazemos uma revisão no papel e a passamos para os alunos, temos sempre alguns números para verificar seu alcance. No meu caso, a coisa fica mais ou menos assim:
Entre 20 e 30% fazem todos os exercícios e pedem explicações para fazer os exercícios nos quais têm dúvidas.
Entre 20 e 30% fazem parcialmente, deixando sem fazer o que não sabem e que seria exatamente o que deveriam fazer para aprenderem o que ainda não sabem.
O restante dos alunos:
a) uma parte diz que perdeu a folha.
b) uma parte diz que não teve tempo de fazer (deve ser a timeline do Facebook que atrapalha…).
c) uma parte diz que não conseguiu fazer.
d) uma parte diz que esqueceu de fazer.
e) uma parte arregala os olhos e pergunta: “Era para hoje???”
Quando trabalho com jogos todos participam e mesmo em classes de adultos (que não gostam muito de se expor) a aceitação beira 100%.
2) Eles não se cansam. Se você tem bastante coisa para revisar (antes de uma prova, por exemplo) eles costumam reclamar que há muitos exercícios, que não entenderam o enunciado, e até exclamam: outra folhinha!!! Quando a revisão é feita com jogos eles não reclamam e mesmo jogos com muita matéria, que duram até horas são bem aceitos.
3) Gasta-se pouco material. Quando preparamos uma apostila de 3 páginas para uma sala de 40 alunos temos que imprimir ou tirar 120 cópias. Pensando naquele primeiro ítem mencionado acima, já sabemos de antemão que apenas 30 ou 40 delas serão usadas da forma que deveriam.
Se preparamos boardgames para uma classe de 40 alunos, temos que imprimir 10 páginas (uma para cada grupo de 4 alunos). No caso do dominó, onde mesmo quem assiste aprende e participa, temos que imprimir 2 páginas!
4) Tempo. Quanto tempo você gasta para elaborar uma apostila de 2 páginas com exercícios? Algumas horas, creio eu. Para preparar um dominó (sobretudo se for um recurso que sempre usa, e que já tenha um modelo pronto) você apenas terá que procurar as imagens, para preparar não levará mais que 30 minutos.
5) Diversão. Será que algum de nossos alunos se diverte preenchendo duas páginas (ou mais) de exercícios? Os que fazem é por obrigação, e mesmo entre esses, alguns confessam que fizeram durante outras aulas, ouvindo música, enquanto estavam na internet, etc. Isso significa que fizeram de forma mecânica, sem muito “cérebro” envolvido. Resultado: vão aprender pouco, mesmo aqueles que fizeram todos os exercícios.
Onde o dominó se encaixa no aprendizado?
Se estamos ensinando ou revisando vocabulário, basta colocar figuras e palavras, na hora de encaixar o aluno terá que encaixar palavra com palavra, figura com figura ou figura com palavra, e nesse momento ele irá aprender a ligar a palavra à figura.
Em aulas de idioma eu peço também aos alunos que falem a palavra enquanto encaixam o dominó, então também irão exercitar-se oralmente e melhorar pronúncia. Os que estão assistindo também estão vendo e ouvindo, então também estão aprendendo.
Como além do fator “sorte” também precisam aprender a encaixar as peças, farão força para memorizá-las em algo que considerarão útil no momento (vencer a competição) e depois de memorizarem, se você der chances para que pratiquem sempre, não vão mais esquecer.
Se os alunos são de nível avançado também podemos usar dominó para revisar vocabulário. De um lado coloque a palavra e do outro sua definição.
Também pode ser usado para qualquer coisa. Basta de um lado colocar definições e do outro, a palavra, nome da pessoa. Por exemplo, de um lado coloque a figura de uma invenção e do outro coloque os nomes de seus inventores. Ou coloque o desenho de um osso de um lado, seu nome do outro. Ou coloque a bandeira de um país de um lado, o nome do país de outro. Coloque o mapa do país de um lado, o nome do país do outro. Coloque de um lado o Estado e do outro, a capital.
Se você usar sua criatividade encontrará milhares de formas de usar dominós para revisar sua matéria.
Um jogo sempre tem que divertir
Lembre-se, entretanto, que um jogo tem sempre um objetivo: competir, ganhar, divertir. Nunca prepare um jogo que não respeite as características principais do jogo.
Quando comecei a preparar dominós eu incluía dezenas de coisas ao mesmo tempo e os alunos se frustravam porque o jogo não “dava certo” e ninguém ganhava no final.
Para que o dominó “dê certo”, você tem que incluir 7 tópicos de cada vez, matematicamente distribuídos em 28 peças, como um dominó de números. Se você incluir mais, deve respeitar essa distribuição matemática e o número de peças resultantes dessa quantidade de tópicos diferentes.
Veja abaixo a quantidade de pedras para cada quantidade:
Duplo 6 28 pedras (o que eu utilizo)
Duplo 9 55 pedras
Duplo 12 91 pedras
Duplo 15 136 pedras
Duplo 18 190 pedras
Lembre-se que no seu jogo cada um 7 dos elementos deve corresponder a cada um dos outros 6 e a si mesmo, para que no final alguém consiga ganhar (ficando sem peças). Se você combinar aleatoriamente pode acontecer de todos os jogadores ficarem com peças que não terão como encaixar, ou seja, ninguém irá ganhar, e isso é frustrante para os alunos.
Jogando com 28 pedras (com 7 elementos trabalhados) podemos jogar com 4 alunos de cada vez, que serão substituídos por outros 4 a cada rodada. Os demais assistem o jogo e dessa forma também aprendem. Se você precisar trabalhar muitos tópicos de uma vez seria melhor usar um bingo ou jogo da memória, que serão tratados aqui em artigos futuros, aguarde!
Podemos dividir a classe em 4 grupos e em cada rodada um membro de cada grupo joga, ao final o grupo que tiver mais membros vencedores será o campeão.
Uma rodada demora entre 15 e 20 minutos, talvez até menos. Numa aula de 45 minutos 12 ou 16 alunos poderão jogar. Na aula seguinte ou na semana seguinte, no mês seguinte, você traz outro jogo com outrso 7 elementos e mais 16 alunos jogarão.
Outra ideia é preparar vários sets de dominós e cada grupo de 4 joga com um, o professor revisa os encaixes antes de declarar a vitória do vencedor. Pode revesar os grupos para jogarem com um set diferente a cada nova rodada.
Você pode estabelecer um campeonato, com jogos semanais, cada semana 8 alunos se enfrentam em 2 rodadas. Os outros assistem, torcem e – aprendem!
Nas próximas postagens vou explicar aqui como jogar o dominó adaptado, como prepará-lo e como tirar dele o máximo para torná-lo um recurso eficiente no aprendizado de seus alunos.
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Nos links abaixo você encontrará jogos adaptados para suas aulas:
Zailda Coirano – SOS Idiomas
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